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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O VETO DA DILMA E O SILÊNCIO DOS BONS?

“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
Pastor Marthin Luther King




Uma das mais belas frases de Luther King e, por isso, recorrentemente citada por seus admiradores. O desvio de sentido para o qual o autor direciona sua preocupação dá a força do enunciado, isto é, o que o preocupa não é o grito das pessoas más, mas o fato das pessoas boas fazerem silêncio. Mas será que de fato são boas as pessoas que silenciam? Por seu uso corrente, a frase parece ter criado um comportamento conformista no qual o silêncio se torna condição para ser bom. Certamente, não foi essa a intenção do autor, mas as palavras são perversas e criam realidades para além das vontades.  Novos contextos demandam novos sentidos e, portanto, novas frases. Para isso, vale recuperar a frase do Apóstolo Tiago, quando diz: Na verdade, saber fazer o que é certo e não fazer é pecado (Tiago, 4, 17 – Bíblia Mensagem). A omissão é identificada pelo apóstolo como má; sendo o silêncio a principal forma de omissão, não pode ser visto como coisa boa, logo não são bons os que silenciam.

Desde o processo eleitoral de 2010, a ex-guerrilheira/comunista Dilma Rousseff converteu-se ao fundamentalismo religioso cristão violento. Em junho de 2011, seus novos pais na fé cobraram-lhe o dízimo e a fez vetar o kit escola sem homofobia. Recentemente, sem qualquer pressão pública, vetou uma propaganda do Ministério da Saúde em que dois rapazes insinuaram um beijo. O vídeo fazia parte da campanha de combate à AIDS a ser divulgado na TV aberta e na internet durante este carnaval. Com isso, a presidenta prova ter se afastado da foice e do martelo para, abraçando a cruz, governar o Brasil a partir de um púlpito. E ainda tem gente que ousa dizer que a igreja não faz milagre. Diante de fervorosa conversão, calam-se setores do movimento LGBT e militantes petistas.
Não, definitivamente não há bondade no silêncio, principalmente, quando o silêncio é proposital. Alguns, quando tentam quebrá-lo, o fazem apenas para sussurrar: o Estado é Laico!, mas novamente voltam ao silêncio. É preciso começar a ser dito a quem de fato esse governo e esses religiosos têm servido. Dizer o Estado é laico é basicamente não dizer nada ou, pior ainda, criar uma falsa idéia de disputa religiosa. A não ser que o PT deixou de ser partido e tornou-se uma igreja e o Congresso será dissolvido para ser implantado em seu lugar a Convenção Geral das Igrejas da Assembléia de Deus, não se trata de uma nova questão religiosa na política brasileira. Quando Hitler e Stalin, por meio do Ministro de Relações Exteriores da Alemanha Nazista Joachim von Ribbentrop e o Ministro de Relações Exteriores soviético Vyacheslav Molotov, assinaram um pacto de não-agressão na cidade de Moscou, o que estava sendo negociado secretamente entre eles era a divisão da Polônia. Se traduzirmos Hitler como bancada evangélica e Stalin, o Governo Dilma, a Polônia é ao mesmo tempo direitos humanos, sociedade brasileira e mercado capitalista.
O que está em jogo nessa profanação entre templo e planalto, entre a cruz e o punhal são interesses mútuos em fatiar os Direitos Humanos fundamentais para transformá-los em arrendamento capitalista. De um lado, os nazistas têm medo de que os alemães descubram que não são uma raça ariana e de outro, os comunistas, por não verem mais sentido na cor vermelha e no símbolo da foice e do martelo, querem transformar sangue polonês em polpudas notas verdes. Traduzindo: a bancada evangélica teme políticas públicas que possam conscientizar seus fiéis de que todas as pessoas são livres em direitos e devem tê-los garantidos. Caso isso ocorra, não haverá razão deles elegerem religiosos para defender no Congresso sua fé; de outro lado, Dilma e seus correligionários transformam o PT numa mega empresa – semelhante à do PSDB – uma vez que Direitos Humanos não têm mais sentido para eles. Acostumados à cor púrpura, Dilma, PT e seus parceiros de fé sujam suas mãos de sangue: cada veto que a Presidenta determina no santuário da fé traduz-se no cotidiano em milhares de vetos aos sonhos, à esperança, à felicidade e à vida da população LGBT.

3 comentários:

  1. Eu não sei onde e quero muito, muito saber em que site confiável leram que o veto à propaganda do Ministério da Saúde de combate à AIDS partiu diretamente da presidenta. Todos estão usando esta e outras informações de maneira deturpada, desonesta e sensacionalista. Sei bem que temos/devemos pressionar o governo que, certamente não nos dará direitos do nada. Mas é preciso responsabilide e ética com o que dizemos para não nos equipararmos a quem tanto criticamos.

    Infelizmente tenho percebido que há uma militância mal intencionada entre nós -- aliás, como em quase todas --, portanto, procurem sempre uma segunda fonte, e certifiquem-se da credibilidade do site e do autor, conta muito.

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    1. Eduardo, diferentemente do veto ao kit, este foi feito sem alarde. Não houve nenhuma manifestação pública da bancada evangélica contra o vídeo e, por conseguinte, não foi necessário manifestação pública da Presidenta. Mas há um histórico, meu caro, e, considerando esse histórico, o ônus da prova de que não foi o Planalto que vetou cabe ao próprio Planalto. Esse é o silêncio conivente desse governo. Até porque o Ministério é parte do Executivo. A não ser que o Ministério sofra de esquizofrenia, não faz sentido ele vetar o que havia produzido e já divulgado... logo...

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    2. Militância mal intencionada? Eu que me impressiono com a capacidade que as pessoas tem de se enganarem ou da eleição de suas prioridades de indignação. Dilma é PRESIDENTE, representante maior de todo o governo e responsável direta por sua estrutura, os ministros são nomeados. O que está em jogo é uma política pública vetada por um ministério só pelo seu teor LGBT, sem pressão evangélhica, sem repúdio da sociedade... a propaganda é vetada antes que venha a luz de ser distribuída. Onde está Dilma? Onde está o PT? O que orienta esse governo? Não fosse a internet, nem saberíamos nada disso.

      Caralho, são tempos muito sombrios. É todo um setor militante e da sociedade comum, que poderiam fazer alguma pressão, que trocou a pauta LGBT pela governabilidade e pela defesa do governo, sem nem pensar.

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