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domingo, 23 de dezembro de 2012

NOVO COORDENADOR DA CADS: O QUE ESPERAR?






" É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática."
Paulo Freire




Para encerrarmos este polêmico ano de 2012, recebemos a notícia do novo coordenador da CADS – Julian Rodrigues. Vários militantes duvidavam dessa possibilidade, contudo, visto sua dedicação na campanha de Fernando Haddad, era previsível que o mesmo assumisse ou colocasse alguém de sua confiança nessa Coordenadoria. Embora seja ilegítima – no sentido de reconhecimento político pelo movimento LGBT paulistano – essa indicação, é legal visto que o papel dele não é de representar, mas de ser executor na administração da Prefeitura no que refere às políticas públicas de cidadania LGBT e de combate à homofobia.
               

                E porque afirmo com tranquilidade ser essa indicação ilegítima? Por uma questão histórica da participação desse cidadão no movimento LGBT na cidade de São Paulo. Fato é que, por razões pessoais, vários militantes paulistanos possam manifestar-se em defesa dele, por isso não recorro ao discurso da representatividade – até porque quem representa a população geral de São Paulo é o Prefeito e não seus funcionários de confiança. Cabe à memória coletiva, isto é, a uma história oral e experimentada, os elementos que comprovam tal ilegitimidade.
                O aparecimento de Julian Rodrigues no movimento LGBT paulista foi por demais conturbado. Vindo do movimento estudantil nacional, trouxe consigo práticas desrespeitosas à concepção de democracia, de diversidade de respeito aos Direitos Humanos. Tais práticas fundam-se basicamente na ideia da disputa pela disputa, na sede de poder e de vencer, nas práticas maquiavélicas em que, para alcançar um fim pretendido, qualquer meio pode ser justificado.
                O mesmo é conhecido por implodir reuniões para eleger seu grupo político nas entidades do movimento LGBT, como aconteceu no Grupo CORSA em 2009 e no Fórum Paulista LGBT também em 2009 e em 2010. Na II Conferência Estadual LGBT de São Paulo, forçou a participação de pessoas não inscritas na Conferência, colocando-as em condições desumanas e jogando a responsabilidade à Coordenadoria Estadual de Políticas Públicas LGBT, com o intuito de alcançar um número de votantes suficientes que elegessem delegados para a Conferência Nacional os quais servissem de blindagem à Presidenta Dilma Rousseff contra críticas da sociedade civil por conta do seu veto ao Kit Escola Sem Homofobia.
                De opositor ferrenho e desrespeitoso tanto à Coordenadoria Municipal quanto à Estadual, Julian torna-se o executor dessa Coordenadoria no Município de São Paulo. O que esperar desse sujeito cujas práticas políticas foram recorrentemente repudiadas pelo movimento municipal, estadual e nacional LGBT? Por uma questão de compromisso com a coisa pública e com a luta pelos direitos de cidadania da população LGBT e contra a homofobia, espero sinceramente que o executor seja, de longe, melhor que o militante. Nem por isso, acredito que devamos esquecer sua passagem avassaladora na militância LGBT paulistana.
                Segundo entrevista dada ao Mix Brasil, o novo coordenador diz que priorizará a periferia e a Parada LGBT de São Paulo. Mas é sabido que o discurso público na maioria das vezes não corresponde com as práticas cotidianas e, no caso específico dele, essa tese é historicamente comprovável. A questão é: a que preço essas políticas serão priorizadas? Será de fato prioridade de execução de políticas públicas para periferia ou uma desculpa para agremiar militantes ao seu partido?
Sabe-se bem que o mesmo fez parte do grupo que blindou o governo Lula e Dilma, impedindo que o movimento social cobrasse a tão prometida e faltosa políticas públicas de combate à homofobia. Apenas por um momento quando essa defesa tornou-se impossível dadas as alianças e práticas submissas da atual presidenta a setores fundamentalistas, foi que o mesmo veio a público questioná-la, mas o fez muito tarde e muito timidamente. Será a sua gestão de submissão e blindagem ao governo do Haddad ou estará disposto a cobrá-lo internamente e garantir que tais políticas sejam realizadas a contento? Temo que não.
Por fim e o mais preocupante de tudo isso é quanto a sua postura como coordenador em relação ao Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual. Na gestão de 2008-2010, quando membro desse Conselho, ele foi um dos principais responsáveis pela tentativa de implodi-lo devido ao fato de o mesmo não ter se disposto às suas politicagens. Uma das mudanças radicais operadas contra sua vontade nesse Conselho foi a de implementar eleições diretas para escolha da representação da sociedade civil. Antes de ser indicado ao cargo, o mesmo já havia se pronunciado contra a recente eleição dos novos representantes e a favor de retornar às eleições indiretas, subordinando-a ao controle de ONG. Agora, como Coordenador, fica-nos a pergunta de qual será sua relação com o Conselho: diálogo ou tensão?
Algumas pessoas, embora concorde com o conteúdo, possam discordar da crítica devido aos constantes ataques que recebemos de setores conservadores. Penso o contrário: a coisa pública deve ser tratada como pública e, por mais que torcemos para que essa gestão seja positiva no combate à homofobia, não devemos apagar a história, muito menos isentar seus sujeitos de suas ações, sobretudo quando as mesmas foram negativas. Contudo, faço coro com os que esperam que o gestor seja melhor que o militante e que de fato a CADS possa continuar  e melhorar ainda mais como instrumento de combate à homofobia e promoção à cidadania LGBT no Município de São Paulo.

2 comentários:

  1. Aplausos, pois compartilho exatamente da mesma visão.
    Manoel A. B. Zanini
    São Paulo, SP

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  2. Por mais que eu me esforce no sentido contrário, acho que esse indivíduo representa o que há de pior e mais nocivo dentro do ovimento LGBT. Quem acompanhou por alguns anos a Lista virtual GLS sabe muito bem das ofensas constantes, maltratos, conchavos, puxações de tapetes, humilhações perpretadas por Julian Rodrigues, onde muit@s foram vítimas, incluiseve este que vos fala, um horror. Muit@s militantes de valor se afastaram da Luta LGBT por causa dele e, infelizmente, não só ele, mas vários e várias que o cercam e que seguem o seu "estilo" impl2ementador de ódio que transformaram o nosso movimento num espaço de ódio e de crueldade com oponentes. Acho que chega, não? Ainda bem que hoje, para a infelicidade desse ser e d@s que com ele se parecem, há muitos outros movimentos de valor, de ruas, militância digital e etc., que apresentam formar inovadoras do fazer político e não compactuam com nada que ele prega, seguindo um caminho mais sincero, onde honestidade nas relações é possível.
    Que o Movimento LGBT volte a ser um espaço de amor, não mais de ódio, desvios e de escondidos.
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

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